in english No curso da vida, há acontecimentos modestos que podem ser uma dádiva. Eu acabara de chegar no hotel. Sempre no centro desta clara neblina, que vêem os olhos do cego, explorei o quarto indefinido que me haviam destinado. Tateando as paredes que eram ligeiramente rugosas, e rodeando os móveis descobri uma grande coluna redonda que era tão larga que quase não conseguiram abraçá-la meus braços estendidos, e me custou juntar as duas mãos. Maciça e firme se elevava até o alto. Soube em seguida que eram brancas. Durante alguns segundos conheci essa curiosa felicidade que descortina o homem, as coisas que são quase um arquétipo. (...) Em um outono, em um dos outonos do tempo as divindades de Shinto se reuniram, não pela primeira vez, em Izumoo (Japão) (...) e uma das divindades disse: "Demos aos homens a sucessão, o dia e a noite. Os peixes e o arco-íris. Acabaram de criar uma arma invisível que põe fim à história. Antes que isso ocorra, devemos exterminar o homem". A outra divindade disse: "E verdade. Mas criaram também algo que cabe no espaço de 17 sílabas. Que homens perdurem". Assim, por obra de um haiku, a espécie humana foi salva..." Jorge Luiz Borges em passagem do livro "Atlas", relatos de viagens pelo mundo.
......Não poucas vezes a fotografia revelou
de maneira tão contundente a efemeridade do corpo dentro de uma
perspectiva da imagem e sua capacidade de permanência e dissolução.
Muitos artistas tem explorado questões que vão desde o corpo como
depositário de repressões e territórios de manipulação e horror a uma
certa artificialidade da construção orgânica da carne. Gaudêncio Fidelis É bacharel em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre em Arte pela Universidade de Nova Iorque e Doutor em História da Arte pela Universidade do Estado de Nova Iorque. Sua tese de doutorado chama-se The Reception and Legibility of Contemporary Brazilian Art in the United States (1995-2005). Foi diretor do Instituto Estadual de Artes Visuais do Rio Grande do Sul e fundador e primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul. Foi curador do Ciclo Arte Brasileira Contemporânea do Instituto Estadual de Artes Visuais quando organizou exposições de Ângelo Venosa, Carlos Vergara, Carlos Fajardo, Jac Leirner, Karin Lambrecht, Iole de Freitas e Marco Gianotti, e a exposição 111 de Nuno Ramos. É autor dos livros Dilemas da matéria: procedimento, permanência e conservação em arte contemporânea (MAC-RS, 2002), e Uma história concisa da Bienal do Mercosul (Fundação Bienal do Mercosul, 2006). Foi curador-adjunto da 5ª Bienal do Mercosul e curou a exposição especial Fronteiras da Linguagem, que levou para Porto Alegre a obra dos artistas Ilya e Emilia Kabakov, Stephen Vitiello, Marina Abromovic e Pierre Coulibeuf |